Então, o falecimento de José Adilson Rodrigues dos Santos, o Maguila, completou um mês e trouxe novamente à tona as discussões sobre a Encefalopatia Traumática Crônica (ETC), doença degenerativa que afeta as células cerebrais por meio de impactos repetidos na cabeça. A doença é comum em esportes que envolvem contato físico, como boxe, futebol, rugby e outras modalidades.

Maria Elisabeth Ferraz, coordenadora do Departamento Científico de Traumatismo Cranioencefálico da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), destaca a importância de evitar o cabeceio precoce na escolinha e no treinamento esportivo. “Evitar o cabeceio precoce na escolinha, no recreacional, é uma ótima medida. Para que ficar submetendo a criança ao cabeceio desde pequena? Mesmo para quem faz boxe ou outras artes marciais, não é necessário chegar às vias de fato no treino. Por que entregar a informação de que um traumatismo recorrente na cabeça pode levar a esses eventos [ETC], para que a pessoa, de posse da informação, escolha o que fazer.”

As instituições esportivas também estão se esforçando para implementar protocolos para minimizar os traumas craniais. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) segue o modelo chamado SCAT (Ferramenta de Avaliação de Concussão Esportiva), também padrão no Comitê Olímpico Internacional (COI) e na Federação Internacional de Futebol (Fifa). O protocolo começa com a avaliação basal de todos os atletas, incluindo a coordenação motora, reflexo, memória, e existem até protocolos de prevenção de preparo muscular da região cervical.

O Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) também adota o SCAT, mas destaca que o esporte adaptado tem características peculiares para avaliação dos atletas. “Uma das maiores dificuldades é no esporte para cegos, como o futebol. Aquelas características que dependem de estímulo visual não podem ser utilizadas. É fundamental que a equipe multidisciplinar conheça a dinâmica motora de cada atleta, para que, quando houver um trauma na cabeça, tenha-se o diagnóstico da concussão.”

O rugby, considerado um dos esportes com mais risco de impacto craniano, trabalha junto com a NFL (principal liga de futebol americano do mundo) para potencializar estudos e comparar dados na área de concussão. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) também adotou um protocolo de concussão, que autoriza uma substituição extra à equipe que tiver um jogador atingido na cabeça.

Maria Elisabeth Ferraz destaca que os protocolos de concussão, cada vez mais rígidos, estão sendo implementados no dia a dia do esporte profissional. “Hoje em dia, não é aquilo de ‘sai um pouco, joga um soro gelado e volta’. O indivíduo é afastado e passa por avaliações. Dependendo do quadro e das queixas, pode fazer exames de imagem, testes neuropsicológicos e avaliações repetidas até que, de fato, esteja assintomático e seja autorizado a voltar a prática esportiva aos poucos.”

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